sábado, 27 de março de 2010

A Herança de um Shaman VI

Se disser que me lembro de tudo daquela noite será uma mentira, no entanto, o principal ainda me dói nos ouvidos. Lembro-me que o vinho servido por aquela criança tinha um gosto maravilhoso, mas não embebedava. Assim, eu mantive a minha lucidez, e me recordo de muito daquilo que foi contado.
Genim, durante toda a conversa me olhou com o mesmo ar fraternal, enquanto me explicava cada passagem com clareza. A minha primeira pergunta talvez fosse aquela que ele menos esperava.
– O que te tornaste? – Ele sorria enviesado. – Não houve qualquer mudança em tua essência. Carregas um Espírito incrivelmente poderoso, bem como mais quatro almas atreladas à tua, mas continuas tão humano quanto sempre fostes.
– Como assim, quatro almas?
– Essa é a parte delicada. Aquele cristal que eu lhe dei é feito a partir de matéria humana, mais especificamente um mago, um espadachim, um arqueiro e um boticário. Esses serão conhecimentos que irão lhe ser úteis em tuas jornadas.
– Conhecimentos úteis, mas se eles foram usados…
– Já tinhas usado magia? – Ele já sabia a resposta. – Ainda assim, o fez naturalmente em tua casa. Eu sei que é difícil de acreditar, mas essas pessoas vivem em ti, dividindo a tua humanidade. Essa magia é complexa, mas aprenderás a usar suas novas técnicas com o tempo.
– Eu poderei usar magia, então?
– Sim. Mas isso dependerá mais de ti do que deles. O feitiço que usei não te fundiu totalmente com essas almas. Diferente de outros que portam este cristal, não serás imortal. A força desta pedra servirá, antes de tudo, para impedir que o selo se rompa. Mas também será capaz de recuperar tua saúde muito rápido, e manter tua vida a despeito da gravidade da ferida.
– E como eu poderei ter aqueles conhecimentos?
– Isso também dependerá de ti. Se te concentrares, sentirá dentro de ti as almas desses doadores. Isso é o que te faz tão diferente de outros humanos que tenham essa pedra. Tua alma não se fundiu às deles. Mas elas estão conectadas, e, por isso, poderás escutá-los, acessar seus conhecimentos, e técnicas. Isso dependerá de treino.
– E este espírito que vive em mim?
– Este não te será de ajuda nenhuma, a menos que aprendas a controlá-lo, o que não farás sozinho. Daqui, irás em direção a Tardos, onde aprenderás a usar este espírito, com outro Shaman. Mas depois eu lhe darei estas informações.
A fogueira continuava a crepitar alegremente. Paramos olhando para o fogo atentamente. As perguntas continuavam a inundar minha mente, ainda que eu não conseguisse decidir qual fazer.
– E os outros generais?
– Assim como Kyu todos foram aprisionados em Shamans.
– Eu vou apreender com um desses?
– Desculpe lhe, frustrar, mas não. É melhor que treines com alguém mais experiente, com mais tempo nesse ofício.
– Existem outros?
– Sim, claro, muitos outros. Mas somente em quatro casos isso foi feito sem a permissão do espírito. – Ele me olhou significativamente. – Não vais fazer a pergunta mais importante?
Respirei fundo, e falei a pergunta que me consumia.
– Como meu esta herança entrou em minha família?

Nenhum comentário:

Postar um comentário